quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Não adianta bater que não deixo você entrar!

Pelo caminho que percorro diariamente há um termômetro, pelo qual acompanho as mudanças climáticas dessa pacata cidade que me encontro. Eis que hoje, pela primeira vez, li uma temperatura abaixo de zero. Modestos -2ºC, mas o suficiente para assustar um paulistano.

E bastava observar a paisagem para perceber a veracidade da leitura do termômetro em questão. Gramados, arbustos, tetos dos veículos, paredes de vidro dos pontos de ônibus, tudo combinava em seu tom esbranquiçado, resultado do congelamento do orvalho.

Mas a paisagem definitivamente não é a primeira coisa a se reparar ao sair pela manhã, deparando-se com esse frio. A visão fica um tanto quanto obscurecida pela sensação das orelhas endurecendo, o nariz ardendo a cada vez que se respira e os olhos lacrimejando ao menor vento. Isso porque, em primeiro lugar, Koblenz não é uma cidade muito fria. E segundo, o inverno é mais rigoroso entre janeiro e fevereiro...

No fim de semana viajo para Nuremberg e depois Augsburg, onde passarei meu Natal. Essas cidades se localizam mais ao sul, onde normalmente as temperaturas são mais baixas. Espero que esse inverno não seja tão frio!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

1a viagem à Alemanha Oriental

No final de semana viajei para uma semana de recepção da AIESEC de Jena (lê-se “Iena”), cidade que fica mais ou menos no centro da Alemanha, no estado da Turíngia, e pertenceu, antes da reunificação do território alemão, à Alemanha Oriental.

Viajar sentido leste-oeste por aqui não é tão fácil como no sentido norte-sul, pelo que entendi, ainda devido a resquícios da guerra. Para conseguir um preço razoável na passagem, para o dia e horário que eu queria, a opção foi descer até Nuremberg e depois subir para Jena, num trem que seguia de Nuremberg para Berlin. Na troca de trem tive uns minutinhos livres e bati umas fotos da cidade e da estação de trem.



















Pra falar a verdade, sinto, por parte dos ocidentais, um grande preconceito em relação aos orientais. Por vezes me foi dito, quando contei que iria para Jena, que era bom eu saber que os de lá não são muito receptivos com estrangeiros. É bem verdade que, enquanto aqui em Koblenz e Bonn (cidades que conheço bem e das quais posso falar) as profissões mais braçais são normalmente exercidas por estrangeiros (a maioria turco, no caso de Koblenz), coisa que não se vê com freqüência por lá, onde os alemães mesmos exercem tais funções. Mas nem por isso deixamos de comer um Currasquinho Grego num boteco turco... e ainda tem essa foto que tirei, que fala por si só.



De cara, na sexta a noite fomos jogar boliche, ou melhor, “Kegel”. A diferença é que a bola é menor e não tem buracos. E os pinos são nove, e dispostos na formação 1, 2, 3, 2, 1. Cada um joga a bola uma única vez e então já é o próximo. Depois de 10 rodadas conta-se os pontos. Não vi ninguém conseguir derrubar as nove, nem uma vez sequer. E olha que na pista ao lado (o lugar era pequeno e só tinha 2 pistas) tinha um grupo de senhores, uniformizados – escrito Kegel na camisa e tudo – e também não vi eles conseguirem...

A foto ta meio ruim, mas da pra ter uma noção de como era a pista.




Fomos então a um bar, tomar alguma coisa. O grupo era pequeno, mas menor ainda era a variedade de países... éramos 3 brasileiros, 2 tchecos, 5 alemães e 1 canadense. Na foto abaixo encontra-se parte do grupo. Reparem na mesa um copo grande com uma cerveja de cor “exótica”. É a tradicional cerveja com suco de banana. Eu já tomei também e até que é bom...




No dia seguinte, pela manha, fomos passear um pouco por Jena. Subimos uma colina de onde tivemos uma vista bem legal de toda a cidade.





À tarde fomos para uma cidade vizinha, chamada Erfurt. Lá, primeiramente fomos patinar. E como não podia deixar de ser, causamos muito. As fotos e o vídeo abaixam dão uma pequena noção do que fizemos. Na segunda foto, atrás do canadense (que é o moreno) está a alemã que organizou a recepção. Dela para trás, não conheço ninguém... são pessoas que simplesmente se juntaram à nós!
















Mas o engraçado foi que, tentando patinar e filmar ao mesmo tempo – vale ressaltar que NÂO SEI PATINAR – uma hora, como esperado, caí no chão. E claro que levei uma meia dúzia junto.

À noite fomos então para a feira de natal de Erfurt, onde tomamos um vinho quente (glüwein, como já disse na última postagem) e também comprei alguns presentes (dos quais não tirei foto e agora é tarde, pois já enviei para o Brasil).



















Infelizmente não tivemos mais tempo para conhecer Erfurt, que sendo a cidade mais antiga da região – com registros históricos do ano de 729 – e importante conexão entre leste e oeste alemão, abriga também diversas atrações turísticas. Sua universidade, por exemplo, teve como um dos discípulo ninguém menos que Martinho Lutero. Voltamos então para Jena, onde dormimos novamente. Na manha de domingo fizemos um passeio pela cidade com uma guia turística. Ela era realmente muito boa! Contou várias estórias dos locais que visitamos, das quais vou selecionar apenas algumas para escrever.


Começamos pelo antigo centro da cidade, que foi um dia cercado por muros, com uma torre em cada canto, das quais só resta uma em pé.



Subimos ainda em um local que, até onde me lembro, foi primeiramente uma base de comando, mas futuramente se tornou um “centro de comunicação comercial”, isto é, um sujeito era pago para ficar lá no alto e divulgar quem estava vendendo o que e onde... era o surgimento do marketing na cidade, hehe. De lá do alto podia-se avistar ainda a torre e também boa parte da cidade.
























Depois descemos e seguimos a caminho da universidade, por onde passamos pela estátua a seguir.



Ela representa o diabo e um estudante tomando cerveja. Conta a lenda que houve uma disputa entre os dois, da qual teriam que ver quem tomava mais cerveja e ainda conseguiria sair andando. O estudante estava ganhando e, para ganhar tempo, o diabo resolveu entrar e beber diretamente do barril. Mas por beber muita cerveja a barriga cresceu e acabou ficando entalado. Com isso o estudante venceu a disputa.


Nos arredores de um antigo prédio da faculdade essa sala amarela, da foto abaixo, era usada para castigar os alunos que faziam algo errado. Eles eram trancados lá pelo tempo que fosse julgado necessário.



Como não tinham o que fazer quando se encontravam sozinhos por lá, eles pichavam as paredes. Houve então um dia que um aluno pintou por toda a parede uma verdadeira orgia, onde os rostos das mulheres eram caricaturas de prostitutas famosas da cidade e os dos homens, os professores mais detestados... Infelizmente a sala fica trancada, pois a pintura ainda se encontra lá e a umidade pode a deteriorar. Mas a guia tinha uma imagem impressa, da qual tirei uma foto.




Evidentemente eles não tinham nenhum tipo de tinta para pintar. O que eles usavam então? Deixo para imaginação de vocês...


Jena possui ainda as suas 7 maravilhas. São pequenas coisas que são tidas como tesouros para a cidade, como uma ponte que é muito antiga e feita de pedra, com estrutura em arcos, o que era bem difícil de fazer na época. Te ainda mais dois que vou destacar.


Na praça mais importante da cidade, a Marktplatz, de hora em hora uma figura conhecida como Schnapphans (que é tipo um “bobo da corte”) tenta pegar com a boca uma bola, que simboliza a alma humana. A estátua na praça foi substituída e a original se encontra atrás de um vidro, numa casa turística que destaca as sete maravilhas em fotos e artigos originais. Segue uma foto da estátua original.



Também nessa sala está uma estátua de um demônio de 7 cabeças. Sua origem é, na verdade, uma brincadeira dos estudantes, que o construíram e disseram que foi encontrado em escavações de um local que é tido como extremamente sombrio para a população local (não lembro a história toda...). Por muito tempo, muitos temeram essa estátua. Uma coisa podemos concluir: os estudantes eram mesmo muito criativos e um tanto quanto talentosos!


Visitamos por fim a igreja de St. Michael, erguida nos séculos 15 e 16. Ela possui 2 grandes portas de entrada, cada qual com sua função histórica.


A primeira foi muito usada para casamentos. A passagem dos noivos por ela, após casados, simbolizava a entrada em suas novas vidas. No canto direito da foto podemos ver um pequeno patamar, onde uma menina de casaco preto está. Ali deveriam ficar as mulheres que engravidavam solteiras, onde eram vaiadas e humilhas pelo povo que passava, os quais muitas vezes atiravam coisas contra elas.



Essa outra porta, que possui 2 patamares, um pouco mais baixos que a entrada da igreja (na foto só se vê o da esquerda), era palco de antigos julgamentos. O juiz ficava no alto, na entrada, os julgados nesses patamares e o povo na parte de baixo. Do alto ele questionava ao povo sua opinião, que era ouvida e cumprida.



É isso. Espero que não tenha sido muito maçante. Juro que tentei resumir ao máximo. Finalizo com uma foto do grupo que fez o passeio com a guia, ou seja, todos os trainees e mais 2 alemães.



domingo, 2 de dezembro de 2007

Mercado de Natal + Fórum sobre o Mundo Árabe

Aqui na Alemanha é muito comum, nesse período de véspera natalina, as cidades fazerem uma espécie de feira na rua, vendendo objetos/enfeites típicos do natal. São conhecidas como “Weihnachtsmarkt” (Weihnachten = Natal)


Esse final de semana teve uma recepção, organizada pelas AIESECS das cidades de Nuremberg e Augsburg, para que pudéssemos visitar as feiras de lá, que estão entre as maiores e mais tradicionais (assim como a recepção organizada pela AIESEC de Munique, quando fui para a Oktoberfest). Infelizmente a viagem sairia muito cara, pois demorei muito para confirmar e o ticket de trem, para sair mais barato, deve-se comprar com antecedência.


Então na sexta, como estava em Koblenz, fui com alguns amigos visitar a feira local. Evidentemente vendem-se também comes e bebes, dos quais provei. Primeiramente um “Glühwein”, que nada mais é que um vinho quente (Wein = vinho e o verbo glühen é algo como arder). Muito bom.


Depois vi uma placa muito engraçada e tive que conferir do que se tratava...




Acredito que não necessita explicações, mas segue mais uma foto.



No sábado então acordei as 6h, pois resolvi ir com o pessoal da AIESEC para um fórum realizada pela AIESEC de Mainz (1h30 de Koblenz de carro, mais ou menos), cujo tema era algo como “Atravessando o ‘gap’ entre o mundo árabe e o ocidental”.


Lá assistimos a seis palestras – só uma em inglês, o resto todo em alemao... foi BEM difícil! No almoço, bem como no final da tarde, pudemos provar algumas especialidades da cozinha árabe (o almoço tivemos que comprar, mas o resto foi totalmente patrocinado).


Em uma sala foram expostos cartazes com fotos de jovens árabes, junto a um CD-player, com o qual podíamos ouvir um depoimento do mesmo(a) sobre o tema em questão. Ouvi apenas três, dos 8 ou 10 que estavam disponíveis, mas deveria ter ouvido mais. Pequenos detalhes ditos, por exemplo, por uma menina que ouvi fazem você parar para pensar. Ela disse, em uma parte de seu depoimento, algo como: “se você parar de procurar as diferenças e passar a procurar as semelhanças, verá que são em quantidade muito superior. Também somos pessoas, como qualquer outra, com as mesmas e simples necessidades, tais como comer, beber, dormir...”. Ela também falou um pouco sobre os preconceitos em relação ao comportamento de cada povo. Os ocidentais muitas vezes acham que eles são totalmente privados do direito à diversão, enquanto eles nos consideram muitas vezes depravados e/ou inconseqüentes. E quem está certo? A questão é essa: existe certo e errado?


Teve algo que um dos palestrantes – um prof. Dr. que leciona sobre o assunto – colocou de forma muito clara. Ele disse que tem coisas que não é possível o ocidental entender. Vivemos e crescemos com um entendimento completamente diferente do deles. Entendimento este que muitas vezes está ligado até à própria língua falada pelo povo. E o exemplo que ele deu da influência até da linguagem na formação de um povo/cultura foi que em uma das línguas da região (salvo engano, o próprio árabe) a palavra “família” e a palavra “casa” são a mesma. Para eles, simplesmente não há diferença.


Arrisco divagar um pouco mais sobre o tema e falar sobre os alemães. Em alemão existem duas palavras para falar “você”. Certo, também temos duas, pois temos a palavra “tu”. Mas aqui uma delas você usa com seus amigos e pessoas próximas. E a outra você usa para tratar as pessoas mais velhas e seu chefe por exemplo. Seria como quando dizemos “o senhor poderia...” ao invés de “você poderia...”, mas vai muito além disso, pois como é realmente uma segunda palavra para você (pois eles também tem uma palavra para senhor), é esperado que você a use sempre. E os verbos são conjugados de acordo com essa palavra, o que não acontece no português. Seja “você” ou “o senhor”, o verbo fica na forma “poderia”. Em alemão seria algo como “você poderia” e “o senhor poderiam”. Reitero que é algo difícil de explicar, mas o que quero dizer é que essa formalidade ou mesmo asperidade atribuída aos alemães, muita vezes é apenas o resultado da cultura e linguagem local, para as quais não temos o preparo e a mente aberta o suficiente para compreender que não passa do modo que conhecem de demonstrar respeito.


Por fim, segue abaixo algumas fotos de alguns estandes que montaram para demonstrar e também vender artigos típicos.